segunda-feira, 19 de julho de 2010

Diversos somos todos nós

Todos acreditamos na frase de Reinaldo Bulgarelli: “Diversos não são os outros, diversos, somos todos nós.” ninguém duvida que somos todos diferentes, com características físicas, psicológicas, e culturais muito diferentes, e quando pensamos na história mais e maiores diferença encontramos. Todavia, quando pensamos em uma pessoa com deficiência, essas diferenças vão além. As diferenças de uma pessoa com deficiência vêm carregadas de significados, de interpretações, que levam à construção de imagens, que por sua vez também estão carregadas de emoção, impregnadas das vivências ou não, com uma pessoa com deficiência. Isso sem falar do medo que todos temos de adquirir uma deficiência ao longo da vida.

Muitos foram os que tentaram eliminar a incoerência dos conceitos, mas a palavra “deficiente” tem um significado muito forte. Freqüentemente é confundido “deficiente” como antônimo de “eficiente”, que por sua vez leva à idéia de “incapaz”. Idéia que se fortalece, quando não existe vivência com uma pessoa com deficiência, ou se a vivência for com uma pessoa cuja deficiência seja de fato limitante e incapacitante.

E aqui outra questão aparece, “generalização”. de novo, a frase “Diversos não são os outros, Diversos somos todos nós”, não é aplicada para a pessoa com deficiência. O simples fato de ter uma deficiência semelhante ao outro, já é determinante que seja igual. As diferenças individuais, familiares, socioeconômicas, psicológicas, não são levadas em consideração.
A sociedade constrói seus valores culturais, se organiza conforme eles, e se expressam através das palavras. Portanto, o primeiro grande desafio das pessoas com deficiência é superar o significado e a imagem que lhes é imposta pela palavra “deficiente”.

Seu desafio começa na família, que não espera e nem quer ter um filho com deficiência, depois na escola, na sociedade, e por fim na empresa. Outro valor cultuado pela sociedade é o sucesso, que define que para se ter sucesso é necessário ser perfeito, completo, forte, ter tudo em ordem, portanto, aquele que não tem alguma parte do seu corpo, não pode conseguir o sucesso, a ordem, o progresso, e leva o estigma de dependente, com necessidade de tutela.

No fundo, a frase “Diversos não são os outros, diversos somos todos nós” é muito mais frase de desejo do que de realidade, na medida em que a sociedade reconhece e valoriza os iguais, homogêneos, aqueles que de todas as formas atendam suas exigências.

O mais cruel é que a sociedade cria suas regras, e mesmo que essas sejam incoerentes ou injustas, todos acreditam e as seguem. Mesmo aqueles que são os estigmatizados acreditam que de fato são inferiores, menores, menos. E, as pessoas com deficiência também trazem dentro de si os conceitos impostos pela cultura, e precisam superar os sentimentos de inferioridade e incapacidade.

É necessário que se reconstruam esses valores, tanto da pessoa com deficiência, como da sem deficiência, porque as imagens construídas estão na cabeça dos dois lados, e de muitas formas se alimentam, impedindo que se estabeleçam relacionamentos responsáveis e sustentáveis.


Deise Fernandes

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